Se os oceanos já são amplamente conhecidos pela sua importância para a alimentação, os meios de subsistência, o transporte e o comércio, é preciso fortalecer o reconhecimento de que também são essenciais para o equilíbrio do clima e da vida no nosso planeta. Afinal, é nas suas águas salgadas que se absorve a maior parte do gás carbônico emitido para a atmosfera, assim como é delas que vêm mais de 50% do oxigênio que respiramos, mais especificamente da fotossíntese das plantas, algas e cianobactérias que lá habitam.
Na era da emergência climática e da exploração desmedida dos recursos marinhos, porém, o oceano e seus serviços ecossistêmicos estão sob inédita pressão, cujos impactos afetam diretamente o bem-estar humano. A perda de biodiversidade oceânica agrava problemas socioambientais em comunidades costeiras menos desenvolvidas, como insegurança alimentar, pobreza, sobrepesca, poluição marinha e desmatamento de manguezais, restingas e várzeas de marés, além de provocar prejuízos à economia local e ampliar a vulnerabilidade das pessoas aos efeitos da mudança do clima.
A CBKK e o Instituto BKK enxergam no Projeto Ocean Farming um dos caminhos para viabilizar uma economia marinha regenerativa que seja capaz de gerar renda para as comunidades costeiras e, assim, fortalecê-las como guardiães dos oceanos. Tal como nas agroflorestas, em que a produção agrícola associa-se a espécies florestais, a agricultura oceânica, ou maricultura, é desenvolvida para imitar a diversidade dos recifes, cultivando uma mistura de espécies que atuam em conjunto para reviver o ecossistema marinho.
Além disso, desenvolvemos o conceito de pescar menos: a partir da combinação da aquicultura com a pesca sustentável, consegue-se diversificar as fontes de renda das comunidades produtoras, diminuindo a sobrecarga sobre os estoques de peixes.
Em resumo, a maricultura reveste-se de especial interesse para a CBKK, considerando o extenso litoral brasileiro e também os seguintes aspectos:
- Trata-se de policultura e não de monocultura;
- Não concorre por terra agriculturável ou por água doce;
- Não utiliza fertilizantes, pesticidas ou defensivos agrícolas;
- Tem papel importante no sequestro de carbono;
- Colabora para a desnitrogenação e na desacidificação do oceano;
- Preserva os estoques naturais de recursos marinhos;
- Beneficia comunidades tradicionais costeiras;
- Contribui para a regeneração de ecossistemas marinhos em geral.
O ponto de partida do Projeto Ocean Farming se dá no desenvolvimento de negócios e projetos de macroalgas, incluindo espécies nativas e exóticas, nas áreas onde estas são permitidas. Estudos de mercado para os possíveis produtos da algicultura, como a carragenana e o agar-agar, já identificaram demandas das indústrias alimentícia (humana e animal) e de cosméticos, além de potenciais usos como bioplásticos e biofertilizantes.